A-Market
Solo Exhibition
Galeria Pilar
Sao Paulo Brazil, 2015
A/Market, de Anton Steenbock ironiza sobre a circulação econômica e simbólica da arte, e coloca em
prova o papel do sujeito nos objetos.
Em cada um dos trabalhos encontramos uma atitude crítica face aos códigos do sistema artístico (da
galeria, do colecionismo, da curadoria, etc.), bem como às estratégias de acumulação do lucro, com a
fetichização do objeto de consumo de luxo, de que é exemplo a imagem de interiores decorados com a
icônica poltrona Eames junto à qual o artista pixa o seu apelido.
A este “espírito do tempo”, onde o mercado ocupa um importante peso simbólico, Steenbock contrapõe
“obras menores”, artefatos, lixo tecnológico e experimentos de bricolage.
Ainda que muitos deles sejam de uma tecnologia quase artesanal, são contundentes em sua poética de
transformação da realidade social. Cesta Básica, por exemplo, composta de garrafinhas de cachaça,
ventilador e tecido, é um título irônico para um mecanismo elementar que, desprovido de utopia, não
deixa de ver a arte como uma ferramenta para encarar o mundo.
A/Market também pode ser lido como um canal de vendas dentro da Galeria Pilar, que vai somando
pequenas ironias e pequenos colapsos, a começar pelo folder promocional de apresentação da “marca”.
Nele se brinca com a linguagem do marketing, quer de objetos de consumo diário, quer de objetos de
arte.
A genealogia dos objetos de Steenbock invocam máquinas sem qualidades, uma vez que não têm a
pretensão de servir heroicamente nem a tecnologia nem a humanidade, e por isso a sua aparência
precária, singela, de “baixo materialismo”. São máquinas inúteis (e também por isso “arte”) resultantes
de conceitos, formulações e devaneios, mas ainda assim com unidade e autonomia, um pensamento que
habita os objetos.
A/Market coloca em evidencia a dualidade entre sujeito e objeto, na economia do consumo e do desejo.
Reflete os paradoxos das subjetividades afetadas por códigos de exclusão aos quais muitos querem
aceder – a arte contemporânea. No jardim da galeria, Steenbock ironiza este desejo generalizado
através de uma caixa de luz com “assinatura”(?) indecifrável em sprayline. A marca do artista subtraise
num ironico néon da propaganda. Experimentalismo mordaz para um capitalismo selvagem.
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Marta Mestre
Curadora Assistente